A cada dia me surpreendo com o potencial de meus alunos em conversarem. Eu chego em sala de aula e eles já estão falando, eu saio e eles continuam falando.
Poderia ser imensamente desrespeitoso se eles não me dessem atenção ou me ignorassem em sala, mas isso não acontece. Eles são até mesmo participadores das aulas; eles se inserem no debate de uma forma ou de outra. Mas, ao mesmo tempo, eles não se concentram em nada e não param de falar entre si, de discutir comigo assuntos variados e que não estão dentro do conteúdo da aula.
Bem. Para quem tem uma ementa para cumprir e avaliações para distribuir, esse comportamento é prejudicial e inadmissível. Coloco-me na posição de quem não pode aceitar tanto barulho e dispersão de um grupo que deveria estar, pelo menos, cansado do dia. Era mais fácil compreender se eles estivessem calados, apáticos, simplesmente distraídos; do que falantes, hiperativos e absurdamente ruidosos.
Eu preciso lidar com a situação dentro daquilo que acredito. Também não aceito ter que simplesmente tolher deles o direito de se manifestar. Afinal, estamos todos em um ambiente de construção do saber, e eles precisam se situar dentro dos conteúdos, precisam se sentir parte de toda problemática que lhes é proposta. Eu não quero uma turma quieta que absorve - ou não - o discurso que faço diuturnamente. Eu quero perguntar e quero ser respondida, quero debater com eles todas as questões pertinentes ao objeto de nossas aulas.
Será que é isso mesmo?
Vislumbro algumas justificativas direcionadas ao meio, quando tento compreender o barulho do meu terceiro período: i) a sala é muito grande; são quase sessenta alunos; ii) eles trabalham o dia todo e usam o momento 'faculdade' para socialização; iii) faz calor e o calor agita os hormônios; iv) eles não estão me ouvindo e, portanto, não conseguem focar em mim. Preciso de microfone.
Tudo pura conversa. Já tive turmas pequenas que eram conversadeiras, e turmas enormes que ficavam tão silenciosas que eu tinha medo de atrapalhá-los, com meus berros. O calor? Aquele ar condicionado é gelado; quase nos sentimos na era glacial. E eles me ouvem - o suficiente para rir de tudo que eles acham engraçado e interferir em tudo que lhes atraia a atenção.
Ontem eu tive um momento interessante - eles passaram duas aulas disciplinadamente calmos. Não houve tumulto nem caos, mas uma perfeita atitude de civilidade entre os alunos, enquanto discutíamos o Processo. Mas bastou trabalharmos uma atividade (duas perguntinhas, apenas!) para eles entrarem no modo = turba novamente, e dele não mais sair. Muitos desistiram da atividade antes mesmo de começar; muitos gastaram horas por sobre uma folha de papel e não conseguiram nem mesmo compreender, plenamente, o enunciado das perguntas.
Eu sei, o conteúdo é difícil. E o conteúdo referente à atividade foi lecionado quando eles estavam no auge da dispersão. Houve pouca participação efetiva e eles mal se mantinham na aula. Eu precisava diagnosticar se eles tinham aprendido alguma coisa, construído algo com aquilo que eu me propus a ensinar, e, pelo visto, falhei miseravelmente.
Ou seja: a dispersão é real, e a participação deles é meramente caótica. Não há raciocínio envolvido, o que se discute ali, morre ali.
E essa é a melhor aula que eles têm - é o que dizem. A melhor aula, a mais esperada. Ahm?
Antes que me crucifiquem, é uníssone entre os professores que essa turma é barulhenta. Apenas um professor - o carrasco - consegue silêncio e ordem - que eu até mesmo posso confundir com apatia e desespero.
É, eu ainda preciso descobrir o que fazer com o meu terceiro período. E o semestre está acabando.